Um real na favela vale muito

* Deley de Acari

In memorian de Mateuzin da Baixa da Maré

(estudo ainda inacabado de um poema inspirado numa foto em que aparece a mão ensanguentada de mateuzin com um real )

Um real na favela vale muito,

Vale o pão do café das mães,
Vale meia dúzia de “ovo”
Pra misturar no miojo do almoço,
Vale uma viagem pelo mundo
Nos caminhos imensuráveis
Da web,Um real na favela vale muito,
Vale um guaravita e um traquina
Pra enganar a barriga, até chegar
Em casa quando falta merenda
Na escola,Um real na favela vale muito,
Um real, de prata e dourado,
Reluzente o ao sol
Alumbrando a alma sublime
Na palma da mão de um
Menino morto por um estado
Policial fascista cruel e desumano…
A prata de moeda denuncia
A espada da perversa guerra,
O ouro da moeda denuncia
A ganância da classe dominante
E sua sanha de poder,
A pequena mão espalmada
Mostrando a moeda é a própria
Mão do Tribunal Popular
Permanente do Mundo sentenciando
Que a vida de uma criança
Não tem preço, não se mede por dinheiro,
Ela é imensurável, como seus sonhos,
Suas esperanças, seu futuro, sua vida,
Um real na favela vale muito,
Um real na mão de uma criança
Assassinada numa viela de favela
Pela cruel e desumana mão armada
Do estado policial é uma sentença muda:
O Estado Policial
Não presta, e antes
Que reduza a vida no Campo, favela e
na periferiaA uma prata de real,
É preciso, sentar no banco dos réus
Do Tribunal Popular dos Povos,
Ser julgado, condenado e sentenciado
A ser destruído e reduzido a nada.
Um real na favela vale muito,
Quando na mão espalmada
De uma criança morta pelo estado…
Porque mostra os governantes
Não prestam, não valem sequer
Um real de pinga aguada.

Texto de Deley de Acari, publicado no blog www.deleydeacari.blogspot.com