"Fala pro usuário esperar sentando"

As novas mudanças realizadas pela prefeitura de Foz do Iguaçu no itinerário dos ônibus de transporte coletivo não agradou a maioria de seus usuários, conforme vem destacando a imprensa local nos últimos dias. Grande parte das reclamações está pautada nas mudanças das linhas e sua falta de informação, sem mencionar o longo tempo de espera pelos coletivos.

Vendo as reportagens e lendo os comentários da enquete realizada pelo Jornal Paraná TV da RPC TV, nota-se que ao invés das mudanças realizadas, os usuários gostariam apenas que houvesse mais ônibus nas linhas antigas. Chamando a atenção o fato de que quase não se ouve comentar sobre o atual valor das passagens.

Mudanças realizadas e desgostosos à parte, acreditamos que o real problema do transporte público iguaçuense não é apenas o que está sendo noticiado.

Há muito tempo nas mãos da iniciativa privada o transporte perdeu o seu caráter PÚBLICO. Isto porque, é natural toda empresa realizar relações de custo e benefício, além do constante cuidado em enxugar gastos e multiplicar os lucros.

Estudos são realizados para saber qual é o número de passageiros de cada linha e os horários onde mais se necessita de ônibus. Verificados a quantidade de passageiros e os horários mais necessitados, calcula-se quantos ônibus e com que frequência eles passarão. Cálculo este realizado por baixo, no liame da tolerância e do aperto do passageiro. Em outras palavras, quanto mais sardinhas eu colocar numa lata só, menos lata eu gasto, não é?

Assim, continuam faltando ônibus nos horários de pico, e mais ainda nos horários intermediários. Não há lucro quando não há passageiros suficientes para cobrir os gastos. Por que será que esperamos mais de uma hora pra pegar ônibus nos finais de semanas? O FozTrans pensou: “Vamos deixar o usuário esperar sentado”. E o usuário pensou: “Quem nos dera esperar sentados!!!”

Isto porque, os interesses políticos prevalecem sobre os interesses coletivos, o repasse para o setor privado nada mais é do que um atestado de incompetência de todas as Administrações Públicas que tivemos até então, ratificado pela atual Administração quando da realização da última licitação vencida por um Consórcio de Empresas. Sequer cogitaram a possibilidade da criação de uma empresa pública de transportes (onde deve prevalecer o direito da população e não do capital), em virtude da autoconsciência de que não são capazes de criar e gerir um empreendimento como este.

O transporte além de ser ruim e démodé, pois Foz do Iguaçu vai à contramão do discurso ecológico. Não compensa pegar ônibus pra quem tem carro, gasta-se menos tempo e dinheiro. Façamos uma conta simples:

O percurso do Boyci até a Vila A possui mais ou menos 7 Km; uma pessoa gasta menos de um litro de combustível (R$ 2,60 se gasolina e R$ 1,70 se álcool) e 15 a 20 min minutos para fazer o referido percurso. Se for de ônibus gasta-se R$ 2,40 ou R$ 2,20 e no mínimo o dobro de tempo, isso desconsiderando o tempo gasto na espera do ônibus e o trecho que anda a pé até o ponto e seu destino. Assim é evidente a vantagem de ir de carro do que ir de ônibus, pois a pessoa desembolsa a mesma quantia e gasta o dobro do tempo. Agora, imagine que sejam duas pessoas, o preço da passagem para elas duplica-se, enquanto que o gasto com o carro continua o mesmo.

Além do aperto do trabalhador e da falta de consciência ecológica, há o estudante que também está sendo lesado. Com direito a pagar meia entrada em quase todos os lugares que cobram entrada. No transporte público municipal ele tem seu direito relativizado. Ele só paga meia quando estiver no seu horário de aula e no ônibus que faz o trajeto casa-escola. Ora, alguém aí deixa de ser estudando fora do colégio? Um exemplo que demonstra muito bem essa contradição ocorre quando o aluno que quer ir ao cinema (que é cultura e faz parte da formação acadêmica), para ver a telona ele paga meia, mas pra chegar até lá ele paga passagem inteira, pois não está no horário de aula. Isso também ocorre quando ele precisa fazer um trabalho ou estudar na biblioteca municipal no contraturno escolar. E ainda tem gente que acha que a aquele discurso que diz que “quem está no poder não quer que o povo pense” não passa de falácia. Veja o exemplo e pense nas dificuldades criadas.

Ainda sobre o preço das passagens, nossa opinião é a de que a estipulação de valores diferenciados pelo mesmo produto ou serviço para quem tem o Cartão Único esta eivada de ilegalidade, em virtude desta prática ter cunho abusivo e violar os direitos básicos das relações de consumo, proibidos pela interpretação do Código de Defesa do Consumidor.

Portanto, os problemas do transporte público iguaçuense não se resumem a falta de ônibus e a longa espera. Todo o sistema, desde suas primeiras ideias é defeituoso e influenciado por interesses individuais. Para resolver isso precisamos discutir e manifestar nossas opiniões. Gostaríamos muito que você leitor divulgasse este texto e deixasse sua opinião aí nos comentários. O Movimento Fronteira Zero desde já agradece.

*Publicado no blog do Fronteira Zero